SEIS
A Lenda da Rosa e do Vigia
Há muito tempo atrás, antes mesmo de o tempo começar
a ser contado, onde hoje está o Vigia de Mármore, existia o pico de uma alta
colina. Conta à lenda que esse lugar era parecido com a mais perfeita descrição
que se possa fazer do paraíso.
Nessa época vivia ali uma linda jovem,
tão bela quanto aquele lugar. Entretanto ela era egoísta, impiedosa, má. Por
pura diversão, usando de sua beleza e encanto, fazia os homens se apaixonar por
ela apenas para fazê-los sofrer. Quando o desespero por essa paixão chegava às
raias da insanidade, ela os fazia retirar uma grande pedra de uma aglomeração
calcária que existia ali perto. Prometendo-lhes ternura e afeto, os fazia
depositar esse bloco na trilha que dava acesso ao pico, e tudo isso em um só
dia. Quando acabavam, ela os atraia para uma roseira tão grande e densa, de
espinhos tão fortes e pontiagudos, tal qual estacas, que nem mesmo os pássaros
ousavam pousar lá para construir seus ninhos. Os homens, enfraquecidos pelo trabalho
árduo, eram facilmente atirados e morriam, não exortando ou amaldiçoando, mas,
empalados, soltavam um doce murmúrio de dor pela paixão não correspondida e
pela traição sofrida. Assim foi construído todo o Caminho das Pedras de Rosas.
Mas um dia ela apaixonou-se
perdidamente por um forasteiro. Pela primeira vez em sua vida ela sentiu seu
coração sangrar, pois, também pela primeira vez, o forasteiro parecia não ter
se apaixonado por ela.
Cheia de fúria, paixão e ódio, mandou
que erguessem um pedestal no alto da colina, bem em frente à roseira. Em cima
daquele pedestal foi posta uma enorme estátua oca, feita de mármore e faltando
a cabeça, então ela própria arrancou quase todas as rosas, deixando apenas uma,
e depositou-as no interior do monumento. Depois mandou trazerem seu amado que
foi atirado dentro daquela escultura, lacrando, então, a única entrada, com a
cabeça da estátua que faltava. Ouviu-se um grito surdo e abafado, depois
silêncio e nada mais.
Diante daquele monumento, a bela jovem
disse:
“Aí está vossa punição por não ter se
apaixonado”!
A estátua respondeu:
“Amei-te, por isso a recusei! Agora
posso passar o resto da eternidade perto de ti, vigiando todos os teus passos”.
A jovem, assustando-se ao ouvir a
estátua falhar-lhe daquele modo, desequilibrou-se, caindo do pedestal sobre a única rosa deixada. Os espinhos
transfixaram seu corpo, a rosa a tragou para dentro da terra, para debaixo de
suas raízes. O lugar imediatamente transformou-se, deixou de ser belo, passou a
ser triste. E até hoje estão lá, o Vigia de Mármore que olha, contempla, vigia,
aquela rosa que ninguém ousa tocar.
...
Se é mesmo que toda lenda tem um fundo
de verdade eu não sei, contudo, eu estava indo para lá a procura do Nada.
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