quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

NADA E TUDO - Título Provisório - CAPÍTULO 5


CINCO

         A tarde caia abafada, mesmo uma brisa que soprasse vez ou outra era quente. Tinha-se a impressão de que naquela tarde a própria vida estava preguiçosa por causa do calor. Já fazia certo tempo eu esperava. Apesar de sua aparente indiferença e frieza, eu sabia que ele, o Nada, voltaria, afinal foi eu quem o tinha vivido. Mas à medida que a espera se tornava maior, eu sentia raiva.
         Eu tentava controlar aquilo, não conseguia, era muito mais forte que minha vontade. Algo me consumia, queimava, uma sensação oprimente, terrível. Levantei-me e comecei a andar, sem rumo, a passos vagarosos.
Tão vagarosa quanto meu caminhar a noite chegou, junto a ela, somando-se ao que eu já sentia, outra vez mais, a solidão - ainda mais forte e aterradora do que na véspera.
Encontrei-me com uma alma ainda mais perdida e confusa do que eu; era um amigo que eu pouco via, mesmo assim era confortável vê-lo. Era um rosto conhecido, que se alegrava em me ver. Dali a momentos depois, estávamos sentados num verde tapete, ressequido pelo Sol, riamos de coisas tolas, tomando do rubro liquido que, de tão quente, tinha gosto meio salobro. Mas o que importava isso? O sabor daquele líquido não tinha importância se comparado ao celebrar da amizade.
         Após ele ter dito uma asneira qualquer e ter feito a nós dois rir quase que a exaustão, fez-se um silêncio constrangedor, isso durou, acho, uma eternidade de uns três quartos de minuto. Joguei-me naquele tapete duro e áspero e fiquei contemplando a imensidão daquele céu negro da noite. Estava imaginando, em alta voz, para onde iria aquele infinito, fui interrompido por meu amigo:
_Nossa! O que você tem hoje?
         _Eu? Eu nada! Respondi.
         _Tem sim. Você está diferente, tem alguma coisa estranha contigo.
         _Como assim?
         _Não sei explicar, mas é que você é sempre tão igual, desde que te conheço, você é sempre a mesma coisa, e hoje está mudado.
         _Estou como sempre.
         _Não mesmo. Percebo apreensão e encantamento em você. Sinceramente, você nunca esteve de aparência, ao mesmo tempo, tão bela e séria.
         _Você está alucinando!
         _Deve ser mesmo, hoje é a segunda coisa estranha que percebo.
         _ O que mais você viu?
         _De tarde eu vi passar por mim uma pessoa realmente diferente.
         _Diferente como?
         _Ele andava como se estivesse se acostumando a isso, mesmo assim não vacilava ou hesitava. Seu olhar era curioso, porém vago, não parecia ser um homem, parecia uma espécie de sombra. Tenho certeza de que ele não é daqui, aliás, não deve ser de lugar nenhum.
         _Que caminho ele fazia?
         _Subia pelo Caminho das Pedras de Rosas, em direção ao Vigia de Mármore.
         Ao ouvir isso, num ímpeto, levantei-me, por hipotensão, somada a boa dose do rubro líquido que eu havia ingerido, tive uma vertigem, só não fui ao chão por que o meu acompanhante me segurou.
         _Preciso ir até lá!
         _Até o Vigia de Mármore?! O que você quer naquele lugar? Aquela sombra, você o conhece? Quem é ele?
         _Por favor, não faça perguntas, depois eu explico tudo. Tenho que ir e tem de ser agora.

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