segunda-feira, 28 de novembro de 2011

NADA E TUDO - Título Provisório - CAPÍTULO UM



UM

Era noite, o tempo ameno, a lua, alva, banhava os Lamentos com sua luz pálida e sua lascividade torturante. Eu, ali, sentado no cálcio moldado, muito embora consciente, estava perdido numa inconsciência causticante. Os pensamentos fluíam, refluíam, iam e vinham numa velocidade incrível. Já havia tempo eu estava assim. Eu não conseguia. Coisa alguma podia me tirar dessa espécie de transe déspota, de mansidão revolta. Eu tentava desesperadamente, mas não conseguia ajudar a mim mesmo. O rubro líquido não me distraia das imagens, vozes e presenças na minha cabeça. As horas se arrastavam lânguidas e preguiçosas, o tempo não corria, os dias eram nada, o nada era o tudo. Sim, é isso, o nada era uma vida, minha vida! Sempre o foi, só que eu não entendia, não compreendia isso.
         Então, o extraordinário eu vi naquela noite. Uma Sombra! Era algo sem forma, sem face, sem peso, sem calor, sem viço, sem brio, sem brilho. Ainda assim era radiante, esplendoroso, atraente, magnífico.
         “Céus, o que é aquilo que vejo? Que se aproxima? Devo estar louco!” – Pensei.
         Meu coração batia de pavor, angústia e êxtase. Pude sentir o sangue pulsando em minhas artérias. Eu queria correr dali, estava com medo, de certa forma, eu já pressentia tudo o que estava para acontecer e não queria que acontecesse, entretanto eu não conseguia produzir movimento. Eu estava fascinado, mesmo sendo uma Sombra era a imagem mais bela que eu já havia visto, e essa imagem se aproximava vagarosamente.
         De repente percebi que minha mente estava limpa, não havia mais lembranças de outrora, de certas auroras, de inúmeros crepúsculos. Não havia mais vozes, nem rostos. Tudo o que havia era uma Sombra e um som ritmado e cadenciado, rápido e forte.
         Tudo começou a girar, eu já não sabia onde estava, nem quem era, nem o que estava fazendo. Estava difícil respirar, parecia que o ar era tão denso quanto o chumbo, parecia que meus pulmões nunca mais se inflariam novamente. A dor que sentia era indescritível; E essa dor trouxe-me um estado de consciência inumana, e como se uma bala perdida, uma flecha flamejante tivesse me acertado o peito em cheio, descobri.
         Descobri que o Nada tinha tomado forma. Descobri que o amava. Que sempre o amei.

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