Numa tarde modorrente e fria.
No alto de um morro, sentado sobre o verde tapete ressequido pelo sol, tomando do rubro líquido com gosto de terra, ele observa.
Lá em baixo, almas que vão e vem, entretanto, parecem não ter direção certa, não sabem quem são, onde estão.
Dentro de si lembranças de um passado não tão distante e ainda presente e vivo nele.
Ele põe-se a escrever.
Escreve coisas sem sentido, sem nexo até para si mesmo.
Faltam-lhe palavras ou, até mesmo, idéias.
Sente como se um vazio gigantesco lhe tomasse por completo, assim, sem aviso, apenas o invadisse.
Deixa cair a caneta e o papel.
Passa, com vontade, seus braços sobre seus joelhos.
Em torno do pescoço tem a echarpe que fora o ultimo presente que ganhara de alguém que realmente o ama.
Puxando, com as duas mãos cruzadas, as pontas do tecido, enterrando sua cabeça em seus joelhos, torna-se feto.
Intimamente, gritava a si mesmo em desespero.
Intimamente, torturava a si mesmo em desespero.
Intimamente, punia a si mesmo em desespero.
Então seu celular toca.
‘Mensagem enviada com sucesso’ – estava na tela.
Ele se lembra da noite passada.
Da conversa passada.
Calor lhe preenche o peito.
Rubor lhe toma a face.
Um fio de esperança emerge no vazio.
Uma torrente o toma.
Finalmente, não apenas uma única, mas uma enxurrada de lágrimas brotam, assim, sem força.
E, ao tocar sua face banhada e quente, o vento frio lhe parece cortante. Dando-lhe a sensação que há tempos não sentia.
Não, ele não é um autômato;
Ou coisa;
Ou algo semelhante;
Ele ainda sente;
Ele é uma vida!
Iago Tödan
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