quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A PRIMEIRA VEZ QUE FUI TRAÍDO!

 


Não lembro exatamente da idade que eu tinha, mas eu era muito garoto, um menino mesmo quando aconteceu. Na época eu não entendia o que eu estava sentindo, porém sabia que era ruim, muito ruim mesmo.
Eu tinha vontade de falar sobre aquilo, mas falar o quê com quem?
De certa forma, eu sentia uma angústia, parecia que estava perdendo algo muito importante na minha vida, não podia dizer que estava triste, mas havia decepção. 
E os questionamentos que eu me fazia. Eram melancólicos. Pq ela fez isso? Será que nunca mais vai voltar? O que vou fazer sem ela?
Depois veio a pior parte do processo, a raiva. Eu tinha raiva dela, eu colocaria outra no lugar. Uma outra superior, que me desse mais do que ela me dava. Eu a odiava com todas as forças do meu ser. Nunca mais eu pensaria nela, nem lembranças restariam.
Mas não foi isso o que aconteceu.
Até hoje me lembro daquele comercial de televisão anunciando que a Kolynos sairia do mercado por causa da concorrência. Mas quem era essa tal de concorrência perto de mim? Eu era mais importante do que a concorrência. Ela não podia me deixar por causa da concorrência. E aquele tiozinho que fazia o anúncio, sujeito insuportável, odioso. Ele a queria só para si, a culpa era dele!
Iriam deixar a Sorriso em seu lugar, e deixaram – é uma boa pasta. Mas quem era ela? Uma estranha que não poderia substituir minha Kolynos.
Ah, minha Kolynos! Aquela pastinha ardida que eu conhecia desde que tinha aprendido a usar escovas de dente – sim usar escovas pq escovar é outra história. Pq me deixava desse jeito? Pq? Pq? Pq?
Então, numa atitude desesperada, fiz meu pai comprar quase todas as Kolynos que haviam na prateleira do Mercado Almeida (um mercadinho aqui perto de casa). Eu tinha esperanças de que um dia a Kolynos voltaria, até lá durariam as que eu tinha. E, novamente, não foi o que se deu.
O tempo passou, meus tubos de creme dental Kolynos acabaram-se um a um. Decidi que era hora de encontrar uma outra. Qualquer uma, menos a Sorriso, ela nunca. Eu não substituiria a Kolynos por aquela que tomou seu lugar descaradamente. Foi então que conheci a Heim. 
Linda vinha num saquinho verde brilhante, era gostosa, mas não era a minha Kolynos, tentei várias outras, mas nenhuma a substituía, eu a queria de volta.
E assim continuei por muito tempo, agora uso Sensodyne por ordem do meu dentista. Porém ainda penso na minha Kolynos.
Hoje eu entendo que o que senti na época foi o sentimento de traição. Sim a pasta de dentes Kolynos me traiu, mesmo que ela volte não a usarei. Hoje, depois de muitos anos, já sofri outras traições, mas nenhuma tão grave quanto à da Kolynos.







Iago Tödan

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

TEMPO DE ILUMINAR AS ESTRELAS

Meu Amor,
Meu Livro Roubado,
Meu Vingador Mascarado,
O que vou dizer agora parecerá estranho
Um tanto pesado. 
É só um triste sonho,
Um pesadelo infantil,
Febre servil.
Isso faz meus olhos brilharem,
Isso faz meu sangue gritar.
Porém, Meu Amor, é tempo de iluminar as estrelas.

Eu quis te ver,
Mas não pude!
Voltarei ao trabalho.

Perdi a visão do meu universo,
O teu vejo de cima,
Minha vida toda ao inverso.

Perdido na maré,
Meu horizonte está turvo!

Agora repouse na sombra.

O Sol é muito forte,
Deveríamos ir mais tarde, quando não está tão quente.
O Sol está tão quente,
Estranho,
Mas de onde estou
Ele parece pequeno,
Tão pequeno.

Oh sim, ele é pequeno,
Apenas tão pequeno.

É tudo verdade, não estranhe,
Ah, Meu Amor, é tempo de iluminar as estrelas.

Não somos indestrutíveis,
Somos imperfeitos, instáveis.
Não somos invencíveis,

Descanse Meu Amor,
Meu Livro Roubado,
Meu Vingador Mascarado.

Já sinto sua falta.
É irresistível!

Tudo isso e só isso,
Escrevi nas paredes,
Com letras douradas,
Com raios do Sol tão pequeno,
Pois, Meu Amor,
Acredite em mim,
É tempo de iluminar as estrelas.

Uma vida fraturada,
Um coração destruído,
Um devaneio perdido,
Uma alma roubada.

Amo-te, mas sei que ainda preciso crescer!

Eu voltarei,

Meu Vingador Mascarado,
Meu Livro Roubado
Ensina-me a ler-te ao contrário?

Voltarei a arvore outra vez mais,
E talvez, somente talvez,
Meu Amor,
Eu descanse contigo!


Iago Tödan

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A ÁGUA DA GARRAFA OU A GARRAFA D’ÁGUA?

Hoje fui comprar água mineral em um supermercado. Cheguei lá e fiquei maravilhado diante das opções. Eram gôndolas e mais gôndolas repletas de garrafinhas de água mineral.
As marcas eram inúmeras e cada uma trazia no seu rótulo a provável composição da água (eu pensava que a água fosse um composto de duas partes de hidrogênio e uma de oxigênio). Os preços eram ainda mais variados que as marcas.
Então veio a dúvida: “Que marca devo escolher?”
Bem simples a resposta, água é água, ela em garrafinhas serve para matar a sede, sendo assim o melhor a fazer é levar a mais barata. Tolo engano.
Percebi que compro água em garrafinhas para matar minha sede, mas sempre de olho no custo-benefício. A escolha é sempre feita através dos seguintes itens:
            1º FORMATO ANATÔMICO – a boca da garrafa precisa ter a forma exata, caso contrário acabo babando;
            2º VEDAÇÃO – ela precisa fechar bem, senão vai haver um dilúvio dentro da minha mochila e eu terei perdido coisas muito importantes.
            3º APARÊNCIA – tem que ser bonitinha, afinal vou tomar água em público;
            4º DIMENSÕES – não pode ser comprida de mais, nem gordinha de mais, entretanto não pode ser curta de mais, nem fininha de mais.
            ÚLTIMO – o plástico do qual a garrafinha é feita precisa ser resistente, caso contrário fatalmente ela vai estourar ou ficar disforme.
Depois de muita análise, fiquei quase dez minutos escolhendo, decidi por aquela garrafinha que achei perfeita sem atentar muito para o preço. E fiz sucesso com ela, tanto que dois amigos me perguntaram onde eu tinha comprado.
Mas gente espera ai! O que é mais importante, a água da garrafinha ou a garrafinha da água?
Vou tentar responder.
 70% do nosso organismo é composto por água, ela é vital para a vida, sem ela não dá. Que importância tem a garrafinha? Nenhuma, definitivamente a água é mais importante.
Mas acontece que sou consumista de mais, tolo de mais, sensato de menos. Sei que é errado, mas continuo escolhendo pela aparência e não dou atenção merecida ao conteúdo.
É, talvez me decepcionasse menos se eu escolhesse as pessoas pela água que tem dentro e não só pela garrafinha.


Iago Tödan

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

“PENSO, LOGO EXISTO...” (RENÉ DESCARTES)

Acho que todos, ao menos uma vez na vida, temos vontade de morrer. Ou melhor, temos vontade de nunca ter existido. Algumas vezes temos motivos mais que suficientes para pensar assim, outras vezes não.
Não sei se isso acontece com todos, mas comigo ocorre sempre da mesma forma, não adianta o que digam ou façam eu, simplesmente, não consigo reagir. A garganta aperta, os olhos incham, as palavras faltam, o ar se torna rarefeito. Enfim o mundo, a vida parecem cair com todo o seu peso sobre mim.

Nesses momentos me isolo, vou para um lugar que ninguém que conheço sabe onde fica. Ali me tranco, choro muito, xingo bastante, me torturo, bebo vinho, ando a cavalo. Depois penso, penso em tudo, menos no que me levou a estar ali. Acabo chegando à conclusão de que não é possível a ninguém conhecer o peso de nossas dores por mais fugazes que possam parecer, por isso não é possível compartilhar a dor como compartilhamos a alegria.

Então percebo que tenho saudades de casa, da família, dos amigos, dos meus bichos, do meu cotidiano, tenho saudades da minha vida.

Percebo que eu não seria nada sem eles, e penso que, provavelmente, eles seriam os mesmos sem mim.

Daí eu vejo que morrer ou querer não ter existido é querer anular-me, é negar a vida, é não ter consciência de minha própria existência. E volto.

Muito embora nem sempre isso funciona como eu queria que funcionasse, às vezes volto exatamente como fui. Isso me ajuda. Me ajuda a não magoar as pessoas que estão ao meu redor, até mesmo aquelas que me fazem mal, mas principalmente ajuda a me conhecer um pouco mais e melhor, me dando forças para continuar e lutar contra minha tristeza!

Iago Tödan