Sinto que preciso chorar.
Faz tanto tempo que não choro. Por tristeza, alegria, amor, pela perda de algo que nunca realmente pertenceu a mim, por qualquer coisa, simplesmente preciso chorar.
Talvez eu não sinta mais as coisas com tanta intensidade, talvez algo dentro de mim - algo que não sei bem o que é – está morrendo. Talvez por isso não consiga chorar.
Durante a noite existem momentos nos quais percebo que, de repente, o mundo está se encolhendo de alguma forma para mim, então, às vezes, me levando no escuro, quando a casa está toda escura, quando todos já estão dormindo, e eu estou acordado, é como estar vivo e morto ao mesmo tempo. É como estar no meio do caminho, no universo do meio, onde as pessoas que estão vivas estão sonhando e as pessoas que estão mortas estão onde estão. E eu estou no escuro, no silêncio. Algumas vezes saio pra fora e olho a Lua, porém nem sempre ela está lá. Outras vezes simplesmente ando. Ando até minhas pernas se cansarem. Penso sobre tudo e sobre nada. Às vezes me canso e sento, outras apenas dou meia volta e retorno. Quase sempre concluo que eu, que todos nós, vivos e mortos, queremos apenas uma coisa. Seja como for, boa ou má, queremos a vida. Essa vida sem nexo, efêmera, sem sentido, barulhenta, mas bela.
Talvez tudo isso seja apenas um devaneio tosco. Talvez seja apenas um sonho acordado. Talvez nada faça sentido e eu esteja num deliro febril sem febre.
Se desses talvezes nada sei... De uma coisa sei com certeza, uma lágrima apenas que seja, preciso chorar!
Iago Tödan