domingo, 28 de março de 2010

UMA LÁGRIMA APENAS QUE SEJA

Sinto que preciso chorar.
Faz tanto tempo que não choro. Por tristeza, alegria, amor, pela perda de algo que nunca realmente pertenceu a mim, por qualquer coisa, simplesmente preciso chorar.
Talvez eu não sinta mais as coisas com tanta intensidade, talvez algo dentro de mim - algo que não sei bem o que é – está morrendo. Talvez por isso não consiga chorar.
Durante a noite existem momentos nos quais percebo que, de repente, o mundo está se encolhendo de alguma forma para mim, então, às vezes, me levando no escuro, quando a casa está toda escura, quando todos já estão dormindo, e eu estou acordado, é como estar vivo e morto ao mesmo tempo. É como estar no meio do caminho, no universo do meio, onde as pessoas que estão vivas estão sonhando e as pessoas que estão mortas estão onde estão. E eu estou no escuro, no silêncio. Algumas vezes saio pra fora e olho a Lua, porém nem sempre ela está lá. Outras vezes simplesmente ando. Ando até minhas pernas se cansarem. Penso sobre tudo e sobre nada. Às vezes me canso e sento, outras apenas dou meia volta e retorno. Quase sempre concluo que eu, que todos nós, vivos e mortos, queremos apenas uma coisa. Seja como for, boa ou má, queremos a vida. Essa vida sem nexo, efêmera, sem sentido, barulhenta, mas bela.
Talvez tudo isso seja apenas um devaneio tosco. Talvez seja apenas um sonho acordado. Talvez nada faça sentido e eu esteja num deliro febril sem febre.
Se desses talvezes nada sei...  De uma coisa sei com certeza, uma lágrima apenas que seja, preciso chorar!

Iago Tödan
Arrisque-se mais, afinal viver é o maior dos riscos e o maior preço que se pode pagar é deixá-la passar em vão, a maior recompensa é chegar ao final, olhar para traz e ver que, apesar dos pesares, fostes realmente feliz.
Quisera eu ter a sabedoria de um velho e a inocência de uma criança.

sexta-feira, 26 de março de 2010

PARA VC DO FUTURO, UMA CARTA DE AMOR.

Sabe, não sei quem tu és. Não sei teu nome ou teu apelido. Não sei qual a cor de teus olhos ou tom de tua pele. Não sei como são os teus cabelos, teus gostos, tuas manias. Não sei como é teu toque sobre minha pele, o gosto de teus beijos, nem mesmo sei o quão quente vc é.
Não fico por aí a procurar-te em todo canto, em cada gesto, em cada olhar.
Tão pouco passo meus dias em ânsia e na ociosa espera de te encontrar.
Ainda assim sei que um dia vamos nos cruzar. Não sei se te amarei no momento em que te ver ou se o tempo o fará.

Ainda assim, sem quase nada saber ou ter certeza, sonho contigo.
Em meus sonhos tu és grãos de areia do deserto que ventos amigos fazem agitar. Viaja milhas, horas, dias e no alto de um pico tu encontras os meus olhos e me faz cegar. E, sem nada poder ver, dou um paço em falso e no precipício me sinto afundar. Desespero-me e grito, tento, em vão, em algo me agarrar, mas tudo o que toco são grãos de areia que passam entre meus dedos tão suavemente quanto as lagrimas que deixo escapar. Estas mesmas lágrimas vão limpando meus olhos e só então percebo que, sustentado pela areia, estou nas brumas, flutuando no ar. A sensação é maravilhosa, indescritível, o medo passa, o tempo para, tudo cessa, nada existe. Naquele momento só o que há são os grãos de areia, vindos de um deserto, que estão a me sustentar. Nesse momento ouso um sussurro que versa sobre um amor que não tem barreiras, nem limites, que tudo é capaz de enfrentar. Olho a minha frente, a minha volta, só as areias estão lá, daí, percebo então, que é vc quem me fala, grãos de areia do deserto que me fazem fugir de mim, que me fazem voar.
Por isso, e só por isso, acho que ao menos teus sussurros sou capaz de reconhecer seja onde for ou como for, mas do teu sussurro vou sempre me lembrar.

Me acho um pouco esgoísta pois as vezes me perco nos sonhos, nos pensamentos e na esperança de um dia te encontrar. Mas tudo o que quero é ter alguém pra quem poder voltar no fim do dia, alguém que eu possa abraçar, alguém que sussurre em meus ouvidos coisas frívolas e tolas que mesmo desperto me façam sonhar.

Iago Tödan